04 maio, 2006

No metro

Estava à espera do metro na estação do Rossio quando vejo o Saraiva do outro lado da linha. Lá estava ele, com o seu sobretudo castanho debaixo do braço como se se tratasse de um embrulho precioso.

Tentando passar despercebido gritei:
- Ó Saraiva!
O saraiva olhou rapidamente para mim e acenou-me com a cabeça enquanto aconchegava o casaco debaixo do braço.
- Saraiva, você por qui? - Berrei para o outro cais.
Ele gesticulava abrindo e fechando a boca mas, confesso que não conseguia ouvir patavina do que ele dizia.
- Vai apanhar o metro? - Obviamente não tinha nada de inteligente para dizer. E o Saraiva lá respondia mas eu continuava a não conseguir ouvir.

Vocês conhecem-me, sabem que eu não sou homem de deixar as coisas pela metade. Fui ter com ele ao outro cais.
- Então Homem, o que se passa consigo?
- Estou rouco...
- Pois! Anda a comer gelados nesta altura do ano...
- Não, não... não é nada disso...
- Então diga lá homem, desembuche!
- Estive, nestas últimas semanas, a trabalhar na Damaia e estar sempre a gritar por socorro deu-me cabo da garganta...
- Mas olhe que saiu um relatório que diz que a denúncia de crimes caiu cinco por cento em 2005... Só pode querer dizer que a criminalidade baixou...
- Ah - disse o Saraiva.
- Ou então que a nossa crónica falta de produtividade já chegou à delação...

Foi neste preciso momento que a composição do metro entrou na estação, abriu as portas e vomitou os passageiros. Mal tive tempo de me despedir do Saraiva e já este tinha desaparecido no meio da confusão deixando-me ali sozinho...