29 março, 2006

Na Mexicana

Como habitualmente, entrei na Mexicana para tomar o pequeno almoço e quem vi junto ao balcão? O meu amigo Saraiva. Sorumbático como sempre, trazia vestido um velho sobretudo castanho, coçado nas articulações. haverá que estudar todas as implicações filosóficas da frase anterior... quantas articulações cabem no casaco de um homem? Como se articula o pensamento filosófico dentro dum sobretudo castanho? Porque é que se continua a dizer que o pão é fresco quando na realidade ele é quente?

Ainda meio zonzo com este turbilhão de pensamentos, reparei que o Saraiva estava, distraidamente, a comprar meia dúzia de ovos enquanto lia o jornal.
- Ó saraiva... bons olhos o vejam. Então o que é que tem feito?
- Oh... nada de especial... tenho andado às voltas com uma crise existencial...
- Você Saraiva?
- ... Há dias até me fui confessar...
- Então... mas você não era ateu?
- Desde pequenino... mas pelo menos, ninguém me pode acusar de não ter dado uma oportunidade à religião...

O Saraiva estava mesmo em baixo, decidi mudar de assunto.
- Ó Saraiva, já leu este artigo?
- Qual? O do eclipse?
- Não, este que fala do número de acidentes na 2ª circular.
- E que diz?
- Diz que em 2005 houve 364 acidentes...
- Ah... Disse o Saraiva em Inglês. Não sei se já tinha mencionado, mas o Saraiva fala fluentemente várias línguas: é polifónico. E continuei.
- Isto dá um acidente por dia...
Mas não conseguia deixar de olhar para a embalagem de ovos que o Saraiva trazia na mão. Ó Saraiva, para que raio são os ovos?
- Sabe, disse ele, habituei-me a lavar a cabeça com shampoo de ovos... mas como agora já não se consegue encontrar, tive que desenvolver a minha própria fórmula...

O Saraiva é assim, apega-se a estas pequenas coisas da vida... mas, e o que é feito do shampoo de ovos?